O que fundamenta suas decisões quando ninguém vê?

Intenção e ação como caminhos para a inovação.

Por Paulo Martinez 


Inauguro hoje um espaço diferente no Innovation Roots

Tenho o hábito recorrente de produzir pequenos escritos: frases soltas, versos livres e notas intuitivas. São lembretes que capturam o sentir daquele instante antes que o pensar tome conta.

Compartilho essas intuições não apenas como expressão, mas também como reflexão, para aprimorarmos nosso olhar sobre liderança e inovação. Começo com um texto sobre uma das leis fundamentais da existência: a troca.

Convido você a ler com o coração antes de seguirmos para a reflexão.

Na vida, tudo é uma troca

Na vida tudo é uma troca.
Daquilo que é mais corriqueiro
aos grandes momentos,
sempre estaremos em troca.

A troca de que falo é aquela espontânea
e não significa interesse ou favor.
Se você oferece algo,
mesmo sem pensar em receber,
ainda assim, recebe.

Esta é uma lei universal:
tudo tem um preço.
Mas, não o preço transacional
a que nos acostumamos.
Este é o preço dos homens,
não é o preço da alma.

A lei universal sempre buscará o equilíbrio.
Pois, em sua ordem tudo é harmonia,
mesmo que não pareça
aos nossos olhos mundanos.

Então, quando você oferece algo
de maneira genuína,
tenha certeza de que receberá
a sua parte.

Não será no seu tempo,
nem da forma como imaginou
ou da maneira como idealizou.

A nossa consciência é limitada
e dela só podemos ver uma face
diante das infinitas possibilidades do todo.

Cada ação gera um novo nó
na teia da vida,
abre um novo campo
de infinitas possibilidades.

Uma ação que parte de uma intenção positiva,
terá resultados, naturalmente, positivos.

Isso não nos exime de obstáculos no caminho,
de decisões, pessoas e momentos difíceis.
São experiências que nos ensinam e nos fortalecem,
nos ajudando a fazer novas e melhores escolhas.

Novas e melhores ações.
Novas e melhores trocas.
Nos mostrando que, a todo momento,
temos mesmo é que ofertar.

Ofertar o nosso melhor
e reverenciar o invisível,
o infinito,
o desconhecido.

Pois a regência da nossa vida
passa por algo que não podemos explicar,
mas podemos sentir.

Isso se chama Fé.
Ou confiança.
Nomeie como quiser.

Tudo o que for fazer,
faça com boa intenção.
Aquela que serve ao bem comum,
não somente ao seu.
Aquela que vem do coração
e não apenas da razão.

A física da intenção nos negócios

Ao reler este texto, a palavra que mais ressoa é “intenção”.

O que fundamenta as nossas ações no mundo? Quando participamos de uma reunião, quando desenhamos uma estratégia ou lideramos uma equipe, de onde vem nossa iniciativa?

Vivemos em uma cultura que nos condicionou a acreditar que a vida é um jogo de soma zero. Aprendemos a competir, a acumular e a operar na lógica do “ganha-perde”. No entanto, a premissa de que “tudo é uma troca” nos lembra de uma realidade biológica e sistêmica inescapável: estamos em relação o tempo todo. Nenhuma pessoa nasce, cresce ou empreende sozinha.

Mais do que transações financeiras ou contratuais, estamos o tempo todo transacionando energia. Se somos constituídos majoritariamente por água — meio no qual circulam impulsos elétricos e sinais químicos — e se nosso cérebro é um emissor e receptor de sinais eletromagnéticos, precisamos aceitar que afetamos e somos afetados pelo ambiente de forma contínua.

Isso nos leva a uma visão mais profunda das organizações. Toda empresa forma um campo energético coletivo, que é a soma das intenções, emoções e padrões comportamentais de cada pessoa ali presente. Se a intenção predominante for de medo, escassez ou vantagem individual, o campo se degrada. Mas, se a intenção for genuína, colaborativa e voltada para o bem comum, cria-se uma ressonância que potencializa resultados de maneira não previsível em nenhuma planilha.

Boas intenções como confiança estratégica

Muitas vezes, a ansiedade do mundo moderno (o ritmo das máquinas) nos leva a querer controlar o resultado imediato da troca. Queremos o retorno exato, no prazo estipulado. Mas a “lei universal” a que o texto se refere opera em outra dinâmica.

Gosto de pensar que somos gotas em um rio. Ao depositarmos o nosso melhor na correnteza por meio de uma intenção positiva, não precisamos controlar cada curva do caminho. Temos a confiança (ou a fé, como preferir) de que o rio inevitavelmente encontrará o mar (a abundância).

Em minha jornada de 23 anos empreendendo, percebo hoje que os maiores saltos não vieram do cálculo mesquinho, mas dos momentos em que ofereci meu melhor sem garantia de retorno imediato. Essa “matemática infinita” é cumulativa: sementes de boas intenções e trocas genuínas acabam germinando, muitas vezes de onde menos (ou não) esperamos.

O elo perdido da inovação

Para sustentar essa postura em uma cultura agressiva e acelerada, precisamos resgatar o que chamo de “elo perdido” da inovação, que é a tecnologia social e relacional.

Como exploro no artigo A verdadeira inovação acontece na integração das 3 tecnologias, vivemos um desequilíbrio em que a tecnologia científica (tecnocêntrica) e a tecnologia natural (biocêntrica) estão desconectadas. A tecnologia social é a ponte que une essas esferas. Trata-se da capacidade de nos relacionarmos conosco, com os outros e com o meio ambiente de forma positiva e regenerativa.

Essa ponte só pode ser construída de dentro para fora. Não há como melhorar a troca com o mundo sem antes curarmos a troca interna. Por isso, o autodesenvolvimento deixa de ser um “luxo” ou um hobby e passa a ser uma competência estratégica. É um trabalho diário de autoexame, estudo e aprofundamento pessoal que nutre dois pilares fundamentais:

  1. Inteligência Emocional:
    Muitas vezes confundida com frieza, a verdadeira inteligência emocional é fluidez: a capacidade de reconhecer as emoções que nos percorrem, sem negá-las ou combatê-las. Pelo contrário, utilizando tecnologias ancestrais (como a meditação, por exemplo) para reorganizar essas emoções, criando uma nova sintonia interna antes de externalizá-la.

  2. Inteligência Relacional:
    Quando nos reconectamos com a nossa essência, deixamos de ser reféns dos estímulos externos frenéticos. Desenvolvemos um “filtro interior” de integridade que passa a governar nossas ações. Isso significa estar inteiro em tudo o que fazemos — seja na concepção e desenvolvimento de um projeto, na gestão de uma crise ou no encerramento de um ciclo. A inteligência relacional é a garantia de que, independentemente da circunstância externa, aquilo que coloco na mesa é a minha melhor versão, nutrindo o campo coletivo em vez de drená-lo.


O convite que faço hoje é para invertermos a lógica. Em vez de perguntar: “O que eu ganho com isso?”, experimente perguntar: “Qual a melhor intenção que posso colocar aqui?”. Quando uma organização aprende a nutrir esse campo de trocas genuínas, o salto qualitativo em inovação, prosperidade e saúde mental é imenso.

Que possamos ter a coragem e lucidez para oferecer o nosso melhor.


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Paulo Martinez é empreendedor, comunicador, tecnólogo e designer de sistemas regenerativos com 25 anos de carreira. É co-fundador e sócio do Grupo Ginga (ginga.group), co-fundador do Distrito (distrito.me), além de co-iniciador e publisher das comunidades intencionais GIRA (gira.xyz) e Innovation Roots (innovation-roots.com). Paulo também é membro do conselho e professor titular do IMGP (mestregp.com.br).

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